a sutil perda da vida tátil - parte I
“Goffman aponta para a diferença entre fazer algo e expressar o fato de fazer algo [...] pense, por exemplo, na experiência de curtir um pôr do sol em oposição a comunicar a um público que você está curtindo um pôr do sol”. - Jia Tolentino em “Falso Espelho”.
Despertei para esse sintoma (a perda da tatilidade da vida) em uma tarde em que preparava café. É um dos meus pequenos prazeres preferidos.
Gosto do aroma e do barulho da água quente encontrando o pó no filtro. É o que me leva a curtir o sabor com mais alegria.
Resolvi gravar um vídeo curto, coisa boba, normal, mas me atrapalhei. Não consegui segurar o celular, deixar a água da chaleira rolando e prestar atenção no café.
Ao tentar validar a experiência por meio do vídeo, falhei.
Em poucos minutos estava pronto o café, e eu havia substituído a minha experiência pela tentativa de comunicação audiovisual dessa mesma experiência.
Perdi o que me apetecia. Esse foi, para mim, o primeiro estalo.
Fui descobrir o termo tatilidade depois, enquanto fazia pesquisas sobre o assunto. Encontrei a definição de Byung-Chul Han, filosófo.
A tatilidade, segundo Han, não é apenas o contato corporal, mas a “pluridimensionalidade e multiplicidade de camadas da percepção humana, da qual fazem parte não apenas o visual, mas também outros sentidos”.
Pausa. Respira.
Esse é um tema que muito me interessa, e sempre que possível trago em discussões.
Já rascunhei outros textos e tentei entrar em um concurso de ensaios com ele, mas não passou.
Resolvi dividir essa discussão com vocês em duas (ou mais) partes, dependendo do quanto render. Então na semana que vem continuarei a falar do assunto.
Por ora, deixo aqui:
1) a virtualização da experiência te incomoda de alguma maneira ou você sente que é apenas o modo como vivemos hoje?
2) é possível resgatar a tatilidade? quando? em que momento dos nossos dias? nunca mais? ou só no futuro?
me escreva, vou adorar ler. Pode ser
por e-mail: louise.bragado@gmail.com
ou (ironicamente) por DM no Instagram @louisebragado.
uma tapioca perfeita. Superpostável. Por sorte, também estava boa na vida real.